sábado, 14 de agosto de 2010

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FINLANDIZAÇÃO
SUOMETTUMINEN


[possível entrada para o dicionário da UNIVERSIDADE]



Nem se diz que sim, nem se diz que não; agradece-se! Fica-se caladinho à espera de melhores dias e tenta-se passar despercebido. Um País (ou Nação) “finlandizado” [ou em processo de “finlandização”] é aquele que aceita sem discussão as directivas que lhe chegam de uma super-potência [mais ou menos vizinha, mais ou menos corrupta], sem contudo perder a sua soberania. Numa perspectiva geral, “finlandização” é coisa má: passividade cínica a querer passar por neutralidade “politicamente” correcta. Numa perspectiva finlandesa [logo, não-pejorativa], a “finlandização” prende-se com pressupostos basilares da Realpolitik: sobreviver. Para tal, o País (ou Nação) mantém-se mais neutro e gelado que um fiorde e segue feliz a triste sina de quem precisa de ter as costas quentes [...pois que na Escandinávia o frio é mesmo a sério...], parecendo no entanto não dever nada a ninguém. “Parecendo”... É que isto não tem nada a ver com diplomacia; é demagogia mesmo! Mas com distanciamento crítico; jamais brechtiano... Ou seja, um espectáculo é “finlandizado” quando aceita sem discussão as directivas que lhe chegam de cima, ou então que lhe caem em cima, ou então que estão tão (a)cima que é impossível lá chegar. Sem contudo perder a sua soberania! Um espectáculo “finlandizado” é, portanto, um espectáculo “arcticamente” infeliz [...congelado no seu próprio tempo, não aspira a futuro nenhum...], e hormonalmente desequilibrado e queixoso [...“porque é que os nossos antepassados não escolheram um sítio mais quente para se instalarem?”, the Helsinki Complaints Choir would say...]. Porque não chega a ganhar nada, também nada irá perder, e porque em arte nada se transforma, o espectáculo “finlandizado” é aquele que fica entalado num certo “meio” onde a virtude, definitivamente, não está. É por isso que é um espectáculo frustrado: nem dialéctica positiva, nem dialéctica negativa; e “não-dialéctica” é coisa que não-existeRealpolitikamente, o espectáculo “finlandizado” assina, assim, a sua própria certidão de óbito no exacto minuto em que nasce; é um nado-morto. E isto não tem nada a ver com suicídio; trata-se apenas de uma manobra de charme para chamar a atenção — show off, a querer ser show out. Nunca show on! Porque o espectáculo “finlandizado” só se vê por fora [...tire-me é esses óculos 3D da cara, por amor de Deus!...]; por dentro, a leitura será sempre enviesada... O espectáculo “finlandizado” também não é um género [...porque ‘géneros’ não fazem o nosso género...], e só existe um espectáculo “finlandizado” dentro do género: ESTE. Acto único — morre logo mal nasce. Não existem mais; não existem outros. É triste? É.

[Texto escrito para os tutoriais do documentário em vídeo do projecto Espectáculo de Teatro (2008) e reescrito para a conferência-performance Terceira Via™ | Kolmas Tie™ (2013)]